“Montepio foi o banco que mais cresceu em depósitos no primeiro semestre” foi a manchete que titulou um artigo de página inteira no Diário Económico, de 16 de Agosto, e onde é afirmado: “A instituição liderada por Tomás Correia foi a que mais depósitos captou entre Janeiro e Junho – de entre os sete grandes bancos que já apresentaram as contas – registando um aumento de 9,6% nesta rubrica.”.
Esta foi a ideia geral que foi reproduzida na comunicação social.
É falsa e é uma mistificação.
É um truque de desinformação, que coloca a enfase no crescimento homólogo (Junho 2011, a Junho 2012), induzindo à conclusão errada de crescimento no ano corrente, onde, como se verifica no mapa abaixo:
Jun-2011 | Dez-2011 | Jun-2012 | Crescim. | Crescim. | |
Homólgo | 2012 | ||||
Depósitos Clientes | 12.609.862 | 13.701.919 | 13.820.409 | 9,60% | 0,80% |
(Fontes: Relatórios e Contas Montepio)
os depósitos de clientes da CE, em 2012, estagnaram se não mesmo regrediram (30/Junho é dia de referência para o Relatório semestral e alvo de engenharia para o embelezar, não reflectindo a normalidade da actividade) e este ano ainda mais, certamente.
E há factos que corroboram esta quase certeza.
Caso fosse verdade o crescimento dos depósitos em 2012, conjugado com a redução do crédito mencionada na comunicação à CMVM (2,7%) deveríamos estar perante uma situação folgada de liquidez.
Ora, a CE colocou, no mês de Agosto, e pela primeira vez na sua história, três emissões de papel comercial, de 100 Milhões € , cada. O recurso a emissões de papel comercial (a prazo de 180 e 365 dias) são, normalmente, prenúncio de dificuldades de liquidez.
Por outro lado, se a CE está a ser bem sucedida na captação de recursos, faz pouco sentido os recados de Tomás Correia ao BP, em entrevistas, para este penalizar os bancos que remuneram excessivamente os depósitos. Algo está errado.
A dificuldade da CE neste dominio, é confirmada no site da CMVM ao revelar que a emissão de 31/Julho de papel comercial foi praticamente ignorada pelo mercado – dos 100 milhões colocados, apenas 21,3 milhões foram subscritos. Este insucesso fundamenta o lançamento de mais duas emissões em 20/Agosto.
O mercado está mais imune que os associados do Montepio à propaganda.
O resultado de 4,8 milhões
Qualquer informação de gestão da Caixa Económica só pode ser avaliada com o conhecimento da informação de gestão da Associação Mutualista.
A Associação Mutualista é, presentemente, um instrumento da Caixa Económica quando, é fundamental nunca esquecer, foi criada precisamente para ser ela a gerar valor para os Associados. Esta Administração, tem transferido da CE para a AM, Custos e Prejuizos e tem-lhe diminuído as Receitas, empobrecendo-a, reduzindo os benefícios dos associados e pensionistas.
A titulo de exemplo, a Associação Mutualista é o maior depositante da Caixa Económica, mas é também o mais mal remunerado.
No último triénio, a Associação Mutualista, caso tivesse beneficiado das taxas de juro de mercado, deveria ter recebido mais 26 Milhões de euros.
2009 | 2010 | 2011 | |
* Depósitos AM na CE | 667 | 345 | 462 |
Taxa Juro recebida (1) | 2,4% | 1,7% | 2,7% |
Taxas de mercado (2) | 4% | 4% | 4,5% |
* (2) – (1) | 10,67 | 7,29 | 8,32 |
* Milhões euros (Fontes: Relatórios e Contas Montepio)
Sem aquele conhecimento, e de novo, a informação sobre o resultado da CE, vale o que vale. Para mim nada a não ser manipulação em ano de eleições.
O que se pretende esconder?
As 278 páginas do relatório semestral do ano passado, foram substituídas este ano, por uma pequena comunicação de apenas 2,5 páginas. Não há Balanço, nem Conta de Resultados.
Por outras palavras, não há informação para análise autónoma e independente. A comunicação é um panfleto de propaganda para alimentar a comunicação social.
Mas Tomás Correia não é só ao mercado que esconde informação: acaba de retirar à Comissão de Trabalhadores do Montepio o acesso à informação de gestão que lhe é devida por Lei, facto inédito mas bastante significativo.
Ou estamos perante um comportamento obsessivo de secretismo, ou perante uma grande manipulação. Qualquer das hipoteses não auguram nada de bom e não honra a tradição democrática que presidiu à fundação da Instituição.
A Revisão de Estatutos da Caixa Económica
O monstruoso desrespeito estatutário deste processo de Revisão já foi objecto do meu artigo “Mais outra? ”.
Convocar a 17 de Agosto – época balnear – a Assembleia para 1 de Setembro, a dois meses das eleições, é um golpe palaciano às claras.
Não disponibilizar sequer o documento que irá ser discutido na Assembleia, ultrapassa os limites da decência, mas não surpreende e é coerente com a gestão obscura desta governação.
Mais e melhor informação, independência e autonomia dos orgãos de fiscalização, são alguns dos principios defendidos pela CMVM dos quais esta Administração foge a sete pés.
O Governo do Grupo Montepio precisa de ser repensado e ajustado às exigências dos mercados, aos bons princípios e às boas práticas da gestão moderna. Logo, tem de ser equacionado na sua globalidade e na interacção das suas várias componentes, não perdendo de vista a sua razão de ser e finalidade mutualista.
Alterar pontualmente os Estatutos da CE, nos moldes em que o processo se está a desenrolar, com tantas dúvidas a pairar no ar e na proximidade das eleições, só reforçam a suspeição de que há muito a esconder e que se pretende assegurar a continuidade do actual ciclo governativo.
Esta Instituição, quase bicentenária, de propósito social e humanista, merece muito mais do que esta Administração lhe está a oferecer, e esse é o desafio que, espero, se coloque nas próximas eleições de Dezembro.