O passado mês de Dezembro foi particularmente singular e preocupante.
Tomás Correia, em entrevista à Visão, reconheceu haver um excedente de 900 pessoas com a aquisição do Finibanco.
O Orçamento revelou que, em 2011 e 2012, os resultados da CE serão praticamente nulos. Por outras palavras, 1.245 Milhões € investidos pela AM – que correspondem a 45% do seu Activo – nada renderão para os associados.
Nas eleições para a União das Mutualidades Portuguesa (comunidade mutualista nacional) o gigante e poderoso Montepio foi derrotado por outra candidatura.
O que se passa?
É hoje evidente que o maior mérito, do Novo Montepio é a sua capacidade de comunicação. Nunca tivemos uma central de propaganda tão eficaz. Crescemos, tudo é acertado e corre bem, acumulamos sucessos… mas.
Continuamos onde sempre estivemos (6% de quota de mercado) e, agora, sem resultados. Comprámos problemas que não eram nossos e são contrários à nossa essência social (“libertar” 900 postos de trabalho). Os estatutos e outros normativos não são respeitados. Os associados, pensionistas e colaboradores nada beneficiam, pelo contrário. A mutualidade nacional já esteve mais próxima de nós.
Acabou 2011, trabalha-se agora no Relatório e Contas (RC) a ser analisado em Março e o Novo Montepio não pode continuar a esquivar-se ao escrutínio associativo. O RC do Montepio é o mais furtivo do sector financeiro. É tempo de nos alinharmos com as práticas generalizadas dos restantes, tais como:
I) No sector bancário, o intervalo entre a Convocatória e a realização da AG é, no mínimo, de três semanas, enquanto no Montepio é de duas semanas. Acresce ainda a subtileza de emitir a convocatória à sexta-feira – o que reduz o numero de dias úteis concedidos aos associados para análise da documentação – e não disponibilizar a documentação na data mencionada.
Em Março/2011, o Montepio convocou a 11 para 28 , enquanto o BES convocou a 9 para 31.
Somos igualmente os únicos – após 35 anos de democracia – sem voto de abstenção, uma chantagem sobre a Assembleia.
II) Os Indicadores Globais dos Bancos comparam os últimos cinco anos – o que facilita a visão ampla da evolução – enquanto o Montepio compara apenas três.
Nestes Indicadores há informação sobre a Satisfação dos Clientes e dos Colaboradores. O Montepio não revela indicadores de Satisfação dos Colaboradores, nem dos Associados. Porquê?
III) Sobre o Governo do Grupo – Politicas de Remunerações dos Órgãos Sociais e dos Directores de 1ª Linha, e as Remunerações efectivamente recebidas por cada elemento – os RC da Banca dedicam um terço a esta matéria, cerca de cem páginas. O RC do Montepio dedica-lhe apenas onze páginas que nada esclarecem sobre as Remunerações Fixa e a Variável do CA, os critérios de avaliação do seu desempenho nem as condições de Reforma que beneficiam, como acontece nos outros bancos. E os associados querem saber qual é o encargo total dispendido com o governo da Instituição.
IV) Um Grupo Financeiro que cresce mas não produz resultados. Porquê?
A crise financeira de 2008 passou para primeiro plano o controlo da Gestão e dos Gestores, por parte dos investidores e organismos de controlo. Pretende-se saber como o dinheiro é ganho e gasto, bem como os Riscos resultantes das Políticas da Gestão. Nesta preocupação não há diferença entre uma Sociedade Anónima ou uma Associação Mutualista.
Queremos que a Lei se cumpra, que haja segregação efectiva da gestão de cada investimento em vez de contabilidade criativa e números políticos. Queremos saber, de forma resumida e sintética:
A) Sobre o Grupo:
1) Em cada investimento estratégicos da AM, qual o ROE, o dividendo recebido pela AM em valores absolutos e relativos;
2) A estrutura de receitas e custos de cada um;
3) As transações ocorridas entre empresas do Grupo (CE e a AM incluídas).
B) Sobre a Caixa Económica (CE):
Queremos compreender porque os custos de funcionamento aumentaram, em média anual, 40 Milhões, no periodo 2004 a 2010?
1) Pretende-se o detalhe – normal no sector – do saco azul Serviços Especializados (Estudos, Consultores, auditores externos, etc.) em que gastamos, em média, 16,5 Milhões €/ano (o BPI gasta 10 Milhões).
2) Saber porque, mantendo-se o conjunto dos trabalhadores da CE e da AM (2.900) estabilizado – e os resultados distribuidos pelos colaboradores terem sido significativamente reduzidos – os custos com pessoal aumentaram, em média, 20 Milhões €/ano (30%).
3) Conhecer a carteira de títulos da CE, omissa em todos os RC.
C) Sobre a Associação Mutualista (AM):
No cumprimento do artº 34º do Código das Mutualidades (Autonomia e Sustentabilidade de cada modalidade) – evocado para reduzir beneficios aos associados, em 2010 – queremos saber:
1) O valor de cada Fundo Permanente, Próprio ou de Reserva.
2) A composição patrimonial de cada um destes Fundo, no ano em análise e no ano anterior.
3) A movimentação associativa global e por modalidade, em quantidades (admissões, eliminações, desistências, falecidos…)
Em suma, queremos Legalidade, Rigor e Transparência.
Queremos saber se é o Grupo a contribuir para a AM ou o inverso.
Queremos informação útil, clara e tempo para analisá-la.
Queremos um canal de comunicação institucional onde os associados possam comentar e dialogar uns com os outros para um maior esclarecimento e envolvimento na vida da Instituição.
Creio, no entanto, que o esclarecimento dos associados não é muito desejado. Gostaria de estar enganado, mas não me parece.
Nota: Para aceder a artigos publicados anteriormente clique, no fim da página, em: Ver todos os posts de Transparência e Escrutínio
Por uma questão de transparência, impõe-se que todos os os referidos indicadores constem detalhadamente do Relatório de Gestão.
Aliás, num passado ainda não muito distante, creio que todos eles eram detalhados nos Relatórios anuais.
Penso que é legítimo exigir estes esclarecimentos, para que acha transparência e verdade. Ninguém deve ter receio destes esclarecimentos. Costuma dizer-se que “quem deve não teme”. Acha alguém que analise estas questões e as divulgue. Os associados têm direito a conhecer toda a realdidade.
Os associados devem ter acesso à verdade. Quem não deve não teme!