Perdi a confiança

Nos últimos doze meses ocorreram quatro  acontecimentos  que  transfiguram o perfil histórico da Instutição. Merecem reflexão na substância e nos métodos utilizados.  A todos eles, pela sua importância, voltarei em breve.  Neste artigo pretendo apenas identificá-los,  proporcionar informação e equacioná-los em linhas gerais.

O primeiro refere-se  à Sustentabilidade da AM. A causa  evocada foram as responsabilidades assumidas com os associados.  O Novo Montepio descobriu a existência de   ”modalidades com dividas”,  estimando-as  em  29 milhões(Relatório 2010, pag. 440).  Encerrou modalidades, destruiu as expectativas criadas a  milhares de associados  e atingiu a credibilidade da AM como  nunca tinha acontecido na sua história.

O segundo respeita ao novo Regulamento de Beneficios, aprovado este Verão  (cento e vinte  presentes,  em duas horas, aprovaram, em bloco,  onze  modalidades). A consequência mais marcante consiste no fim das Pensões e dos Pensionistas, razão de ser do Mutualismo do Montepio há 170 anosHouve dois votos contra, um dos quais o meu, com  declaração de voto  entregue à MAG. ( Abrir: AG. REVISÃO BENEFICIOS 201109. docx )

O terceiro acontecimento é a  compra do Finibanco por 341M€. Considero haver três aspectos  primordiais a considerar: i) A necessidade do MG comprar o  Finibanco,  no contexto da actual crise económico-financeira. ii) Em que situação estaria hoje o Finibanco sem a OPA . iii)  O negócio decorreu em segredo entre o MG e o núcleo duro do Finibanco.

Numeros que interessam:
(Dez) (Dez) (Mar) (Jun) (Jul) (Nov) (Dez)
2008 2009 2010 2010 Anúncio OPA OPA 2010
Resultados   (milhares €) 878 (9.707) 2.031 1.300 (55.832)
 Cotação 2,43 1,53 1,43 1,19 1,45 1,95
(Fonte: CMVM)
Realço quatro constatações: i) Os resultados em queda desde 2007 até 2009  ( 9,707 Milhões negativos). ii) O resultado em 2010 – positivo até ao 1º semestre  –  acabou em   55,832 Milhões negativos,  facto até hoje não destacado. iii) A cotação,  em  queda desde 2007 até Jun/10,   subiu   22% nas vésperas do anúncio da OPA. iv) O prémio da OPA  (excedente pago acima do valor bolsista)   foi de  87 Milhões, se considerarmos Julho, mas de 133 Milhões,  se considerarmos  Junho, antes da súbita e estranha subida da sua cotação.

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A quebra do tabú, por força da Lei, sobre as Remunerações dos Corpos Sociais foi o quarto acontecimento. Ficámos a saber que cada  elemento do  CA   recebeu   470.000€  em 2009, (40.000€/mês).  Ao retirarem-se –  ao fim de três mandatos –  continuam a receber cerca de  13.500€/mês, até ao seu falecimento e  o conjugue sobrevivo continuará a  receber  5.400€/mês vitaliciamente.

O valor das Senhas de Presença recebidas pelos restantes elementos dos Corpos Sociais é de 800€, mas os membros do  Concelho Fiscal  recebem ainda, abusiva e ilegalmente,  5.000€/mês,  14 vezes no ano, em flagrante violação dos Estatutos da AM ( Artº. 50º, 2.).

Como referi no artigo anterior o Montepio tem crescido, alavancado na  imagem do seu projecto social,  é  uma das maiores  empresas associativas portuguesas e é uma presa cobiçada pelas diferentes organizações  que  intervêm  nos jogos de poder nacional.  Esta é uma realidade da vida portuguesa da qual não nos podemos abstrair, sob pena de não  entendermos a lógica  que liga acontecimentos aparentemente  desconexos.

Com o país de ” tanga”,  o Montepio exibiu pujança ao  exibir  capacidade  para  comprar , “cash”,  primeiro o BPN e depois o Finibanco. Libertou a familia Costa Leite, Banif e António Oliveira da “dor de bolso”  do Finibanco. É  pródigo  nos privilégios  concedidos aos Corpos Sociais e mantidos em segredo até agora. Quer acabar com  pensões e pensionistas e ainda nos  surpreende com uma divida de  29 M€  dos  associados e pensionistas .

Foram longe demais. O  mundo ficou de pernas para o ar.

A confiança não é uma inerência ou obrigação. A confiança conquista-se e merece-se. E eu perdi a confiança no Novo Montepio.  

O Montepio é dos associados,  mas  querem-nos fazer esquecer isso. Temos direito a mais e melhor informação para escrutinar a  gestão. Somos 500.000 dispersos pelo país e é necessário  um canal de comunicação institucional que nos permita   falarmos  uns com os outros.

O segredo, a falta de transparência e de escrutinio são a ameaça à democracia mutualista e à defesa dos  interesses da massa associativa.

João Simeão: jcp.simeao@gmail.com

About Transparência e Escrutínio

Autor: Sócio nº 28.332 do MG, desde 1966. Espaço de comentário e reflexão sobre a evolução e relação do Montepio com a Sociedade Portuguesa. Pretende defender os valores mutualistas, a Missão da AM e interessar os associados na vida da AM.

6 responses to “Perdi a confiança

  1. António José Fortunato Braz

    Associado n.º 28059-8
    Não posso deixar de louvar a iniciativa pela constituição independente deste espaço e dos fundamentos que estão na sua origem, lamentando que a “elite” que hoje gere os destinos da nossa Instituição, não se tenha apercebido que a constituição de um canal interactivo com os associados é a melhor forma de obter subsídios que contribuam para a melhoria da oferta de serviços aos associados.
    Mas percebe-se por quê!
    Quanto mais distantes da informação estiverem os associados da sua Instituição, mais à vontade está quem gere os seus destinos para decidir como bem lhe aprouver.
    Não posso dizer que fiquei perplexo com as informações agora transmitidas, atendendo ao conhecimento que tenho da Instituição, mas a verdade é que li o que não gostava de ter lido.
    Preto no branco!
    Espero realmente que este espaço tenha o êxito que merece, com a adesão dos associados a esta forma de partilhar informações e ideias.
    António Braz

  2. laureana silva

    Concordo plenamente, não me revejo de modo algum neste Montepio e muito menos nos seus dirigentes e por isso digo: não nos convidem por favor para almoços fraternais de Natal. É cinismo a mais.
    Laureana

    • Cara Laureana
      O Novo Montepio promove o isolamento e o silêncio dos associados. O almoço de Natal, sendo um acontecimento para os colaboradores é, simultaneamente, o acontecimento anual que reúne o maior número de associados. Nesta perspectiva, sou de opinião que todos os colaboradores-reformados-associados devem ir almoço de Natal, por direito próprio, e em confraternização associativa. Porque o Montepio é dos associados.

  3. Francisco José Baptista

    Efectivamente João todos nós vivemos numa completa ignorância sobre aquilo que se passa na ainda nossa Instituição. Estou plenamente de acordo contigo sobre a necessidade de canais de acesso a esse conhecimento, pois o estarmos longe do lume, neste caso Lisboa, não nos descompromete. Um abraço e vai informando Ok
    Baptista

  4. Isabel Marques

    Parabéns Simeão a tua voz nunca se calou.
    Saudades do Montepio fraterno, onde cada pessoa era tratada como tal, saudades do Montepio Humanitárioo que felizmente chegámos a viver.
    Não conheço este Montepio, esta Instituição não é o nosso Montepio.
    Convidam-nos para almoçar para ficarem bem na fotografia mas depois são capazes de nos ignorar.
    Vou ficar atenta aos teus artigos.
    Força os pelicanos estão contigo.
    Isabel Marques

    • José Cunha

      Caro amigo, subscrevo em 99% o teu comentário e o teu pensamento. Só não concordo com o “novo Montepio”! O Montepio acabou… Agora há uma entidade bancária que se aproveitou do glorioso passado de uma Instituição mais que única, para prover os interesses de algum grupo (não sei nem me interessa qual!) que em conluio ou disputa com outros, domina e destruiu/ói a economia deste país. “Mutualismo” ??? que é isso??? Eheheh! Isso é de atrasados com 170 anos!!! Velhadas da treta!!! Então agora que estamos com um futuro radiante pela frente, agora é que nos vamos preocupar com o espírito mutualista (que por acaso até é apanágio e solução para as pessoas com dificuldades nos tempos de crise!!!)? Por amor de Deus… só atrasados mentais é que pensariam nisso! Amigo, continua com esse espírito. Um abraço.

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